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O Endotélio, suas Funções e Disfunções

15 Maio

Endotélio refere-se às células que revestem a superfície interna dos vasos sanguíneos e linfáticos (Dorland's Medical Dictionary), formando uma interface entre o sangue circulante ou linfa no lúmen e o resto da parede do vaso. É uma camada fina de células escamosas simples, ou de camada única, chamadas células endoteliais (Eskinet al., 1984; Langille el al., 1981). As células endoteliais em contato direto com o sangue são chamadas células endoteliais vasculares, enquanto as que estão em contato direto com a linfa são conhecidas como células endoteliais linfáticas (Eskinet al., 1984; Langille el al., 1981).

Células endoteliais recobrem todo o sistema circulatório sanguíneo, do coração até o mais fino vaso sanguíneo o qual chamamos de capilares. Estas células têm funções únicas na biologia vascular. Estas funções incluem filtração de fluidos, como no glomérulo do rim, tônus dos vasos sanguíneos, hemostasia, recrutamento de neutrófilos e tráfico de hormônios. O endotélio das superfícies internas das câmaras cardíacas é chamado endocárdio.

 

FUNÇÕES DO ENDOTÉLIO

As células endoteliais estão envolvidas em muitos aspectos da biologia vascular, inclusive:
- Função barreira: o endotélio atua como uma barreira semi-seletiva entre a luz do vaso e o tecido circundante, controlando a passagem de materiais e o trânsito de glóbulos brancos para dentro e para fora da corrente sanguínea. O aumento excessivo ou prolongado da permeabilidade da monocamada endotelial, como nos casos de inflamação crônica, pode levar a edema/envelhecimento tecidual. A função de barreira alterada também está implicada no extravasamento do câncer (Escribano et al., 2019).
- Coagulação do sangue (trombose e fibrinólise): o endotélio normalmente fornece uma superfície não-trombogênica, ou seja, impede a formação de coágulos sanguíneos; isto se deve porque contém, por exemplo, sulfato de heparano que atua como cofator de ativação da antitrombina, uma protease que inativa vários fatores na cascata de coagulação.
- Inflamação (Li et al., 2016): as células endoteliais sinalizam ativamente às células imunes (Vestweber, 2015) durante a inflamação.
- Formação de novos vasos sanguíneos (angiogênese)
- Vasoconstrição e vasodilatação, e consequentemente o controle da pressão arterial
- Angiopoietina-2 trabalha com o VEGF para facilitar a proliferação celular e a migração de células endoteliais

A angiogênese é um processo crucial para o desenvolvimento embrionário e fetal e crescimento de órgãos (Bouïs et al., 2006). O processo é desencadeado pela hipoxia tecidual ou tensão insuficiente de oxigênio levando ao novo desenvolvimento de vasos sanguíneos revestidos de células endoteliais. A angiogênese é um evento fortemente regulado que é balanceado por sinais pró e anti-angiogênicos incluindo integrinas, quimiocinas, angiopoietinas, agentes sensores de oxigênio, moléculas juncionais e inibidores endógenos (Bouïs et al., 2006).

 

SIGNIFICADO CLÍNICO

A DISFUNÇÃO ENDOTELIAL, ou a perda da função endotelial adequada, é uma marca registrada para as doenças vasculares, e é muitas vezes considerada como um evento chave no início do desenvolvimento da aterosclerose. O comprometimento da função endotelial, causando hipertensão e trombose, é freqüentemente visto em pacientes com doença arterial coronariana, diabetes melito, hipertensão, hipercolesterolemia, assim como em fumantes.

A disfunção endotelial também tem se mostrado preditiva de futuros eventos cardiovasculares adversos, e também está presente em doenças inflamatórias como artrite reumatóide e lúpus eritematoso sistêmico.

Um dos principais mecanismos da disfunção endotelial é a diminuição do óxido nítrico, freqüentemente devido aos altos níveis de dimetilarginina assimétrica, que interfere na síntese normal de óxido nítrico estimulado por L-arginina e assim leva à hipertensão. O mecanismo mais prevalente de disfunção endotelial é um aumento das espécies reativas de oxigênio, o que pode prejudicar a produção e atividade do óxido nítrico através de vários mecanismos (Deanfield et al., 2005). A proteína de sinalização ERK5 é essencial para manter a função celular endotelial normal (Roberts et al., 2009). Outra conseqüência dos danos ao endotélio é a liberação de quantidades patológicas do fator von Willebrand, que promovem agregação plaquetária e adesão ao subendotélio, e assim a formação de trombos potencialmente fatais.

Na terapia do câncer o desenvolvimento e o fornecimento de drogas anti-angiogênicas é um caminho muito promissor e o restabelecimento da homeostase vascular tem grande potencial para o tratamento de doenças do tecido isquêmico (Van Hove & Benoit, 2015).

 

Abaixo, um vídeo demonstrando como ocorre a ruptura de uma placa aterosclerótica. As esperas amareladas representam a gorduras circulando nos vasos sanguíneos.

 

 
A DISFUNÇÃO ENDOTELIAL SOB A ÓTICA MÉDICA

A DISFUNÇÃO ENDOTELIAL é resultado de alterações na fisiologia endotelial (Iantorno et al., 2014; Reriani et al., 2010). Em resposta ao acúmulo de lipídios e estímulos pró-inflamatórios, as células endoteliais tornam-se ativadas, o que é caracterizado pela expressão de moléculas de adesão como E-selectina, VCAM-1 e ICAM-1 (Lopez-Garcia & Hu, 2004). Além disso, fatores de transcrição como AP-1 e NF-κB tornam-se ativados, levando à expressão mais regulada de citocinas pró-inflamatórias, como IL-1, TNFα e IFNγ (Blake & Ridker, 2002; Mizuno et al., 2012). O perfil pró-aterogênico expresso pelas células endoteliais promove acúmulo de lipídios e lipoproteínas na íntima, e posterior recrutamento de leucócitos e plaquetas, bem como proliferação de células musculares lisas, levando à formação de estrias gordurosas. As lesões formadas na íntima e a inflamação persistente levam à descamação do endotélio, o que rompe a barreira endotelial, levando à lesão e conseqüente disfunção (Mäyränpää et al., 2006). Em contraste, os estímulos inflamatórios também ativam a expressão da deubiquitinase A20 (TNFAIP3) induzida pela NF-κB, que demonstrou reparar intrinsecamente a barreira endotelial (Soni et al., 2018).

 

Referências

"Endothelium" em Dorland's Medical Dictionary
Eskin SG, Ives CL, McIntire LV, Navarro LT (July 1984). "Response of cultured endothelial cells to steady flow". Microvascular Research. 28 (1): 87–94.
Langille BL, Adamson SL (April 1981). "Relationship between blood flow direction and endothelial cell orientation at arterial branch sites in rabbits and mice". Circulation Research. 48 (4): 481–8
Escribano J, Chen MB, Moeendarbary E, Cao X, Shenoy V, Garcia-Aznar JM, et al. (May 2019). "Balance of mechanical forces drives endothelial gap formation and may facilitate cancer and immune-cell extravasation". PLoS Computational Biology. 15 (5): e1006395.
Li X, Fang P, Li Y, Kuo YM, Andrews AJ, Nanayakkara G, et al. (June 2016). "Mitochondrial Reactive Oxygen Species Mediate Lysophosphatidylcholine-Induced Endothelial Cell Activation". Arteriosclerosis, Thrombosis, and Vascular Biology. 36 (6): 1090–100.
Vestweber D (November 2015). "How leukocytes cross the vascular endothelium". Nature Reviews. Immunology. 15 (11): 692–704
Bouïs D, Kusumanto Y, Meijer C, Mulder NH, Hospers GA (February 2006). "A review on pro- and anti-angiogenic factors as targets of clinical intervention". Pharmacological Research. 53 (2): 89–103.
Deanfield J, Donald A, Ferri C, Giannattasio C, Halcox J, Halligan S, Lerman A, Mancia G, Oliver JJ, Pessina AC, Rizzoni D, Rossi GP, Salvetti A, Schiffrin EL, Taddei S, Webb DJ (January 2005). "Endothelial function and dysfunction. Part I: Methodological issues for assessment in the different vascular beds: a statement by the Working Group on Endothelin and Endothelial Factors of the European Society of Hypertension". Journal of Hypertension. 23 (1): 7–17.
Roberts OL, Holmes K, Müller J, Cross DA, Cross MJ (December 2009). "ERK5 and the regulation of endothelial cell function". Biochemical Society Transactions. 37 (Pt 6): 1254–9.
Van Hove AH, Benoit DS (2015). "Depot-Based Delivery Systems for Pro-Angiogenic Peptides: A Review". Frontiers in Bioengineering and Biotechnology. 3: 102.
Iantorno M, Campia U, Di Daniele N, Nistico S, Forleo GB, Cardillo C, Tesauro M (April 2014). "Obesity, inflammation and endothelial dysfunction". Journal of Biological Regulators and Homeostatic Agents. 28 (2): 169–76.
Reriani MK, Lerman LO, Lerman A (June 2010). "Endothelial function as a functional expression of cardiovascular risk factors". Biomarkers in Medicine. 4 (3): 351–60.
Lopez-Garcia E, Hu FB (August 2004). "Nutrition and the endothelium". Current Diabetes Reports. 4 (4): 253–9
Blake GJ, Ridker PM (October 2002). "Inflammatory bio-markers and cardiovascular risk prediction". Journal of Internal Medicine. 252 (4): 283–94.
Mizuno Y, Jacob RF, Mason RP (2011). "Inflammation and the development of atherosclerosis". Journal of Atherosclerosis and Thrombosis. 18 (5): 351–8.
Mäyränpää MI, Heikkilä HM, Lindstedt KA, Walls AF, Kovanen PT (November 2006). "Desquamation of human coronary artery endothelium by human mast cell proteases: implications for plaque erosion". Coronary Artery Disease. 17 (7): 611–21.
Soni D, Wang DM, Regmi SC, Mittal M, Vogel SM, Schlüter D, Tiruppathi C (May 2018). "Deubiquitinase function of A20 maintains and repairs endothelial barrier after lung vascular injury". Cell Death Discovery. 4 (60): 60.

 

 

Dr João Alberto Ribeiro

Dr João Alberto Ribeiro (CREMESP 119.485) é Clínico Geral, com larga experiência em manejo da dor crônica e neuropsiquiatria. Todas as informações expostas neste website tem caráter exclusivamente informativo e obtido a partir de fontes fidedignas em diversos idiomas e nações através da internet. Tais informações visam ajudar nossos pacientes a compreender melhor as condições que os afetam e jamais serão capazes de substituir o atendimento médico pessoal e individualizado.

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